Ser responsável por alguém em idade escolar nem sempre é uma tarefa fácil, não é mesmo? Acompanhar o desenvolvimento cognitivo e social em meio a tantos estímulos diários, vindos de diferentes fontes, exige cautela e atenção. Da mesma forma, identificar problemas, como os casos de deficit de atenção, é complexo e demanda a ajuda de profissionais especializados.
Apesar do título de “doença mental”, o diagnóstico de transtorno do deficit de atenção/hiperatividade (TDAH) não limita definitivamente a capacidade da criança em conviver e aprender. Por isso, não deve ser motivo de susto ou alarde, já que o acompanhamento adequado pode garantir um desempenho completamente normal, tanto no ambiente escolar como na convivência social.
Para tratar desse tema, precisamos antes entender três pontos importantes, que são pré-requisitos para que julgamentos precipitados e equivocados não sejam cometidos. Vamos a eles!
Problema de aprendizagem é diferente de dificuldade de aprendizagem
Imagine que seu filho foi mal em uma avaliação escolar e, tempo depois, o professor avisou você que ele anda disperso na aula e tem dificuldade em focar a atenção nas atividades propostas, o que provocou queda no seu rendimento.
A questão é: a situação retratada, por si só, pode confirmar o diagnóstico de TDAH?
A resposta é não. Isso porque inúmeros fatores influenciam o processo de aprendizagem e sociabilização. Ou seja, a criança pode estar passando por um problema pessoal temporário (briga com algum colega, por exemplo), o que tirou sua vontade de ir à escola e se dedicar às atividades. Uma vez resolvida essa situação, provavelmente seu rendimento voltará a ser como era.
Por isso, é importante diferenciar “problema” e “dificuldade”.
O problema de aprendizagem é temporário e causado, por exemplo, por uma questão familiar ou com amigos que, quando resolvida, acarreta normalização do desempenho. Ele pode ser identificado por pessoas que acompanham a criança diariamente, como pais e professores.
Já a dificuldade de aprendizagem deve ser verificada por meio de três pontos principais:
-
se apareceu na infância (antes dos sete anos);
-
se persiste por longo tempo (no mínimo 6 meses);
-
se acontece em, ao menos, dois ambientes diferentes (casa, lazer, escola, amigos etc).
Diagnóstico efetivo
Uma vez percebido o problema de aprendizagem, é essencial que os responsáveis busquem ajuda especializada. Como o TDAH influencia várias áreas, como cognição, sociabilização, comportamento e desenvolvimento profissional, o especialista deve ter uma visão que englobe todos esses fatores.
Normalmente, o acompanhamento é feito por psicólogos e psiquiatras, que lidam com situações diferenciadas no dia a dia, as quais incluem os fatores citados acima. Da mesma forma, outros profissionais, como neurologistas e pediatras, podem realizar o diagnóstico clínico, desde que tenham experiência com esse tipo de paciente.
Déficit de atenção x hiperatividade
O TDAH é um transtorno com três classificações: predomínio de sintomas de desatenção; predomínio de sintomas de hiperatividade/impulsividade e, por fim, a combinação entre os dois anteriores. Focaremos a partir de agora os casos de déficit de atenção.
Quais são os sintomas?
Durante o dia a dia da criança, é possível verificar alguns sinais que podem indicar o deficit de atenção, como os seguintes:
-
dificuldade na escrita — a criança pode ter uma caligrafia ruim ou mesmo ilegível e, além disso, na hora de escrever, não consegue transmitir suas ideias para o papel de forma coesa e coerente;
-
dificuldade na interpretação de texto — ler uma história e conseguir responder perguntas simples sobre ela ou mesmo recontá-la ou resumi-la é muito complicado;
-
dificuldade na realização de cálculos — seguir as etapas lógicas para encontrar o resultado de uma operação matemática é trabalhoso demais para a criança;
-
dispersão nos momentos que exigem foco — em situações que exigem concentração, como uma leitura individual ou mesmo atividade em grupo, a criança não consegue chegar ao fim, pois se distrai com facilidade.
É importante destacar que cada uma dessas dificuldades deve ser analisada com cautela pelo profissional responsável pelo diagnóstico. Para isso, várias perguntas devem ser feitas, relacionadas a quando o problema acontece, com que frequência, em que situações, que consequências traz etc.
Como acontece o tratamento?
Inicialmente, como vimos, é feito o diagnóstico clínico por um profissional especializado. Ele conversará com a criança, com seus professores e familiares, a fim de verificar a situação sob vários ângulos. Além disso, ele determinará desde quando o problema acontece e em quais ambientes. A partir de seu conhecimento técnico, poderá verificar se a questão é temporária ou antiga, trazendo, nesse último caso, problemas que podem influenciar negativamente o desenvolvimento cognitivo e interpessoal da criança.
A partir daí, o acompanhamento deve ser contínuo e realizado, se necessário, por profissionais de áreas diferentes, a fim de garantir sua eficácia. Talvez seja necessário, por exemplo, um fonoaudiólogo que ajude a criança nas dificuldades com a comunicação oral e escrita; um fisioterapeuta, que ajude no desenvolvimento da coordenação motora fina, a fim de melhorar a caligrafia; e um psicólogo, que acompanhe suas dificuldades, melhoras e possíveis retrocessos, por meio de conversas abertas e orientadoras.
Depois dessa avaliação sistêmica e analítica, que busca realmente verificar as causas da desatenção e/ou dos problemas de aprendizagem da criança, é verificada a necessidade ou não da administração de medicação psicoestimulante e antidepressiva.
Ou seja, a medicação deve ser o último recurso e estar acompanhada de tratamentos paralelos, que garantam o entendimento da criança e de seus familiares do problema que está sendo tratado e das etapas necessárias para alcançar o melhor desempenho possível, considerando as dificuldades existentes e o progresso realizado no dia a dia.
Diagnósticos precipitados podem trazer consequências que perduram durante toda a vida da criança, já que tratam quimicamente problemas que talvez pudessem ser resolvidos com acompanhamento de profissionais especializados, por meio de acompanhamento efetivo e contínuo.
Como vimos, o diagnóstico dos casos de deficit de atenção exige conhecimento aprofundado do profissional, porém é inicialmente percebido por pessoas próximas à criança, como pais e professores. Por isso, estar sempre atento ao desenvolvimento na escola é fundamental.
E você, conhece alguém com deficit de atenção? Quais as consequências de um diagnóstico precipitado? Deixe sua contribuição ou dúvida nos comentários. Até a próxima!